Publicado em 2025-06-26 19:34:16
Era uma vez um país onde os ex-presidiários não perdiam votos, ganhavam-nos. Onde os escândalos não queimavam reputações, faziam marinar currículos. E nesse reino peculiar, havia um soberano peculiaríssimo: Isaltino Morais, o homem que trocou a cela pelo salão nobre da Câmara de Oeiras – com direito a jantaradas financiadas por Vossa Excelência, o contribuinte.
Sim, Isaltino. Aquele cujo nome já devia estar algures entre “escândalo” e “esfinge” no dicionário da política portuguesa. Preso por corrupção e branqueamento, regressou como o filho pródigo… eleito, reeleito, aclamado, adorado por muitos como um “bom gestor”. Porque afinal, entre um bom gestor e um bom carácter, a malta escolhe o primeiro — desde que o jardim esteja bonito e o IMI baixinho.
Esta semana, a cereja no topo do bolo de nozes mal digerido: uma nova investigação sobre uma obscura transferência de cinco milhões de euros na Câmara. Cinco milhões! Não são cinco cafés, são cinco milhões de euros a passearem-se por contas públicas como quem vai ao mercado comprar alface. E o mais espantoso? A justiça, essa menina envergonhada, parece espreitar de binóculos, com medo de entrar.
Isaltino é o perfeito emblema do que Portugal ainda permite: o retorno do impune, o glamour do condenado regenerado, o culto do “roubou mas fez”. Numa terra em que o crime compensa, desde que sorria à câmara e ofereça umas rotundas floridas.
E assim seguimos, século XXI adentro, com juízes receosos, políticos amnésicos e cidadãos cansados, enquanto as autarquias se transformam em buffets de poder para quem sabe mastigar a lei até ela deixar de ranger.
Mas, como dizia o humorista: “Portugal não é um país, é um feudo onde os barões fazem turismo penitenciário e depois regressam para cortar fitas.”
Francisco Gonçalves & Augustus Veritas, o Cronistas da ironia lusa.
"E eis que regressa o homem da cela à cadeira — não a da prisão, mas a do poder. Isaltino, o eterno, desfila por Oeiras como quem nunca viu algemas, janta à conta do erário como se o erário fosse buffet e, entre rotundas floridas e contratos turvos, continua a ser a personificação do feudo moderno. Portugal: onde o passado criminal é apenas um rodapé no currículo político."