Publicado em 2025-06-23 15:32:55
— Crónica satírica sobre os novos censores do século XXI
Numa época em que a verdade já não é uma questão de consciência ou de evidência, mas sim de verificação algorítmica, surgiu uma nova casta de juízes: os Fact Checkers Autorizados™, legitimados por plataformas sociais que se autoproclamam paladinas da realidade. São os censores digitais, modernos Torquemadas de silício.
Publicaste uma frase que ressoa com Orwell? Cuidado, cidadão.
Se não tiveres o link para o parágrafo exato da edição de 1949 de 1984, vais levar com a tarja: “Informação Falsa – Verificado por Peritos.” Peritos esses, claro, que nunca viveram numa ditadura real, mas que têm um mestrado em “Desconstrução da Realidade Percebida nas Redes Sociais Ocidentais”.
A frase “Quanto mais uma sociedade se afasta da verdade, mais odeia quem a diz” não foi dita por Orwell — dizem eles. Mas quando perguntamos quem a disse então, ninguém sabe ao certo. Talvez tenha sido um algoritmo cansado de trabalhar para o Twitter.
Vivemos numa época em que:
Mas calma, tudo isto é “pelo bem comum”. Porque se não fosse pelo Fact Check™, a civilização ocidental cairia num poço de ignorância e desespero populista. É pelo nosso bem que nos corrigem, nos desmentem, e nos ensinam a pensar direito.
Hoje, qualquer um que pense fora da norma estatística está “a espalhar desinformação”.
Amanhã, talvez seja considerado “terrorista cognitivo”.
A verdade é o que resta depois do filtro. O resto é “contra as diretrizes da comunidade”.
Artigo escrito por Augustus Veritas