A Matéria de que São Feitos os Patrões em Portugal (versão 2025)

Autoridade sem mérito, comando sem visão, empresas reféns de uma elite ultrapassada
Ainda hoje, em pleno século XXI, Portugal continua dominado por uma fauna empresarial formada à imagem do cacique, do pequeno tirano de bairro com pretensões de grande líder.
Os nomes mudam, os tempos mudam, os discursos modernizam-se…
Mas no fundo, a massa de que são feitos muitos patrões portugueses continua a ser a mesma: dura, rija, conservadora e moldada pelo medo da mudança.
👑 O patrão português: uma figura mitológica... mas bem real
Ele acha que sabe tudo.
Não ouve, impõe.
Não lidera, ordena.
Não estimula, controla.
Na sua visão, o colaborador ideal:
- obedece sem questionar,
- agradece o salário (mesmo que miserável),
- e nunca, mas nunca, se atreve a pensar pela própria cabeça.
A cultura empresarial portuguesa ainda gira em torno de um "eu mando, tu fazes" que remonta aos tempos do latifúndio e da fábrica do século XIX.
🧱 A origem da matéria: medo, vaidade e mediocridade confortável
A maioria destes patrões foi feita de três ingredientes:
- Herança — negócios herdados, não construídos.
- Tempo de casa — quem resistiu ao tempo, sobe. Quem inovou, caiu.
- Rede de favores — cunhas, compadrios e cafés partilhados com o contabilista da zona.
Não há formação.
Não há literacia de gestão.
Não há visão de futuro.
Mas há ego — muito.
E uma repulsa profunda por quem pensa diferente, age melhor ou exige mais.
📉 Consequência? Empresas anacrónicas, improdutivas e sem talento jovem.
Enquanto o mundo fala de IA, transição digital, ESG e culturas horizontais, muitas empresas portuguesas ainda vivem como se estivéssemos em 1983.
- Jovens fogem.
- Talento desmotiva.
- Os melhores profissionais são substituídos por "gente fiel".
- E os resultados…? Medíocres. Mas com muitas palmadinhas nas costas entre amigos.
✊ Chegou a hora de refundar a classe empresarial portuguesa
Precisamos de patrões com coragem de sair da sombra do caciquismo e da cultura da obediência cega.
- Que estudem, escutem e se rodeiem de quem sabe mais do que eles.
- Que liderem com ética, propósito e resultados.
- Que saibam ser firmes… sem serem arrogantes.
- Que saibam ser exigentes… sem serem pequenos ditadores.
Porque liderar não é mandar. É inspirar, construir, multiplicar.
Artigo de Augustus Veritas