Liderança sem visão, controlo sem propósito, empresas sem alma

Passaram-se mais de dez anos desde que a reflexão sobre a improductividade estrutural nas empresas portuguesas foi publicada — e, lamentavelmente, a situação pouco mudou.
Se antes falávamos de chefes que confundiam liderança com vigilância, hoje assistimos à mesma dinâmica, disfarçada por modismos como "agilidade", "coaching" e "cultura de proximidade" — quando, na prática, impera o velho medo e a obsessão pelo controlo.


👔 Chefes ou líderes? Eis a questão que continua sem resposta.

Em muitas empresas, sobretudo nas PME nacionais e em organismos públicos, a gestão de pessoas continua assente numa lógica defensiva:

  • controlar horários ao minuto;
  • exigir relatórios para tudo;
  • punir o erro em vez de o estudar;
  • valorizar a presença mais do que o impacto.

Ainda hoje, o modelo vigente parece ser este: "se vejo o colaborador a teclar no teclado, é porque está a produzir."
É o velho culto da "presença visível", herdado do tempo do relógio de ponto e da autoridade pela imposição.


🧠 Onde estão os líderes transformacionais?

A verdadeira liderança é cada vez mais rara. Os bons líderes:

  • confiam nos seus colaboradores;
  • definem objetivos, não apenas tarefas;
  • ouvem, em vez de apenas ordenar;
  • inspiram pelo exemplo, e não pelo medo.

Mas em Portugal, o que temos?
Chefes inseguros, muitos deles promovidos por tempo de casa, compadrio ou estatuto académico, sem nunca terem compreendido o que é liderar pessoas.
Gente que faz da posição hierárquica um escudo contra a inovação e o mérito.


📉 Consequência? Uma economia que nunca descola.

É fácil culpar os salários baixos, os impostos ou a falta de investimento. Mas a verdade é que um dos maiores bloqueios ao progresso português está dentro das próprias empresas — no modelo mental da gestão.
A desmotivação, a fuga de talentos, o burnout silencioso… não nascem por acaso.
Nascem num ambiente onde ninguém sente que o seu esforço conta.


🔄 É tempo de inverter a lógica: da obediência à autonomia.

Portugal precisa de empresas que:

  • valorizem o pensamento crítico;
  • recompensem resultados, não apenas o tempo sentado;
  • invistam no crescimento das pessoas;
  • abandonem o modelo piramidal estagnado e abracem modelos colaborativos.

A produtividade não se impõe — constrói-se com propósito, confiança e liberdade de criar.


A pergunta para 2025 é esta: continuamos a gerir como em 1975?

Ou teremos finalmente coragem de romper com as "tentações" do controlo absoluto, da chefia autoritária e da infantilização dos trabalhadores?

A resposta está nas mãos dos que ousam liderar com visão — e não apenas com organogramas.


Artigo de Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
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