💡 Notas rápidas

O gráfico comparativo "Distribuição do rendimento vs receita de IRS" já está disponível acima. Mostra, de forma simples, que:

GrupoParte do rendimentoParte do IRS
Top 1 %~11 %~25 %
Top 10 % (inc. top 1 %)~35 %~66 %
Restante 90 %~65 %~34 %

Os valores são aproximados, mas ilustram bem a progressividade aparente… e como o topo carrega boa parte da factura — embora com almofadas de evasão.


📝 Portugal, quem paga a conta? — A verdade sobre a contribuição fiscal dos mais ricos"


1. Introdução — o mito da igualdade fiscal

Portugal exibe um sistema de IRS oficialmente progressivo: quanto mais se ganha, maior a taxa marginal. Mas entre o ideal legal e a realidade efectiva há um fosso de milhões — cavado por deduções, regimes especiais e truques contabilísticos.


2. O topo da pirâmide

  • Segundo dados da Autoridade Tributária e estudos do World Inequality Database, o top 1 % detém cerca de 10–11 % do rendimento bruto nacional.
  • Esse mesmo grupo concentra aprox. 25 % de toda a receita de IRS.
  • Alargando ao top 10 %, encontramos um terço do rendimento mas dois terços da receita de IRS.

À primeira vista, o sistema parece justo: quem mais ganha, mais paga.


3. O labirinto das empresas (e as almofadas fiscais)

  • Grandes fortunas raramente aparecem como "salário". Surgem em dividendos, mais-valias, holdings familiares.
  • Gastos pessoais são muitas vezes registados como despesa empresarial.
  • Estudos da OCDE estimam que evasão e planeamento agressivo custem ao erário público pelo menos 1 % do PIB.
  • Regimes como residentes não habituais, Rendas Vitalícias ou benefícios regionais criam ilhas fiscais internas.

Resultado: a taxa efectiva dos mais ricos é menor do que as tabelas sugerem.


4. A classe média espremida

Para quem ganha entre 1 000 € e 3 000 € líquidos:

  • paga alta retenção na fonte,
  • suporta IVA a 23 % em quase tudo,
  • enfrenta contribuições sociais plenas.

Este grupo não dispõe de esquemas de optimização — sustenta o Estado sem almofadas.


5. A narrativa oficial

Governos alternam discursos: "os ricos pagam pouco" vs. "os ricos já pagam muito". A verdade é dupla:

  • Pagam muito sobre rendimento declarado;
  • Pagam pouco sobre património e fluxos desviados.

6. Caminhos para uma justiça real

  1. Fechar deduções irrecusáveis para despesas que não criam valor social.
  2. Tributar património opaco (trusts, offshores, holdings familiares).
  3. Reforçar o cruzamento automático de dados bancários/empresariais.
  4. Simplificar impostos para classe média, eliminando taxas e taxinhas regressivas.

7. Conclusão

Portugal tem um sistema que proclama justiça, mas deixa buracos de luxo. O topo paga… mas menos do que poderia. A base paga… e não pode fugir.

Sem transparência total, a "progressividade" do IRS é tão real quanto um cenário de teatro: impressiona à distância, mas atrás do pano está o vazio.

Augustus Veritas
www.fragmentoscaos.eu

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