Ao longo dos anos, os sucessivos governos em Portugal têm cultivado a ideia de que o subsídio de desemprego é uma dádiva, um apoio caritativo que o Estado concede aos "infelizes sem trabalho". O discurso oficial — subtil mas persistente — constrói uma narrativa de quase culpa ou favor: "Estás a receber do Estado. Sê grato."

Mas a verdade — essa que nunca entra no boletim de voto — é outra:

O subsídio de desemprego não é uma benesse. É um direito pago pelos próprios trabalhadores.

Os descontos: o que poucos dizem

Dos 34,75% que são descontados todos os meses para a Segurança Social:

  • 11% são descontados diretamente do salário bruto do trabalhador, e
  • 23,75% são pagos pela entidade empregadora.

Desses valores, 3,5% correspondem especificamente à rubrica do Fundo de Desemprego.

Ou seja: todos os meses os trabalhadores pagam para garantir que, caso fiquem sem trabalho, tenham uma compensação temporária.

O subsídio de desemprego é, portanto, um seguro social — como qualquer outro — e não um gesto de generosidade do Estado.

A manipulação política

Ao apresentar o subsídio como uma "ajuda social", os governos:

  • esvaziam a noção de direito,
  • infantilizam o cidadão contribuinte,
  • e justificam restrições e cortes com a ideia de que "não se pode abusar da solidariedade do Estado".

Mas a realidade é esta: o Estado gere o dinheiro de quem trabalha. E muitas vezes, mal.

A consequência?

Muitos portugueses sentem vergonha de recorrer ao subsídio de desemprego.
Outros são levados a acreditar que estão a "pesar na máquina".
E pior: o sistema esconde que há milhares de trabalhadores que contribuem, mas nunca terão acesso ao apoio — ou porque o perderam por dias, ou porque o sistema os empurrou para fora.

A verdade tem de ser dita

O subsídio de desemprego é:

  • um direito contratual e contributivo,
  • financiado diretamente por quem trabalha,
  • e mal gerido por quem governa.

Basta de mistificações.
Basta de propaganda social mascarada de justiça.
Chegou a hora de tratar os cidadãos como adultos conscientes — não como pedintes de um Estado que se alimenta deles.


Por Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos

🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
👁️ Esta página foi visitada ... vezes.