Publicado em 2025-05-12 20:08:44
Portugal atravessa uma crise de representação profunda. Em cada eleição, a abstenção ultrapassa metade do eleitorado. Milhares de cidadãos votam em branco, nulo, ou simplesmente deixam de acreditar. Mas o que faz o sistema político perante esse grito de ausência? Nada. Porque foi desenhado precisamente para sobreviver sem o povo.
Quando mais de metade dos portugueses decide não votar, o sistema não se escandaliza. Não se questiona. Não se reforma. Limita-se a seguir em frente, apoiado nos 20 ou 30% que ainda comparecem — muitas vezes por inércia, dependência ou falta de opção.
Os votos em branco? Tratados como decoração estatística. São um protesto silencioso, mas não têm qualquer efeito prático: não retiram mandatos, não obrigam a repetições, não invalidam nada. Servem apenas para iludir consciências e permitir que se diga que o povo "foi ouvido".
A abstenção? É reduzida a um problema de "educação cívica", como se o sistema não fosse ele próprio culpado da desilusão generalizada. Não há autocrítica, não há revisão do modelo, não há responsabilização.
O sistema protege-se:
E assim, sobrevive. Mesmo vazio. Mesmo podre. Mesmo sem povo.
Mas quando os votos em branco, nulos e as abstenções se tornam maioritários, começa o sismo. O sistema não cai de imediato, mas perde legitimidade simbólica, moral e histórica. E é nesse vácuo que podem nascer movimentos auténticos, cidadanias ativas e novos modelos de representação.
Não é o voto que deve ser abandonado. É o sistema que precisa de ser confrontado. E quando votar deixa de contar, talvez seja hora de reescrever as regras.
Porque uma democracia que vive sem o povo não é democracia. É decoração.
Por Augustus Veritas Lumen