Portugal: 50 Anos de Gestão Pública Entre o Absurdo e o Improvisado

Publicado em 2025-05-22 09:24:29

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Ou como uma nação de navegadores se perdeu numa rotunda sem saída

Portugal celebrou há pouco 50 anos de “democracia”. Sim, as aspas são necessárias — não por desrespeito, mas por honestidade. Porque o que temos tido desde 1974 não foi bem democracia... foi antes uma longa peça de teatro amador, com atores que não decoram as falas, cenários reciclados e um público que bate palmas porque não sabe mais o que fazer com as mãos.

Do 25 de Abril ao 25 de Sempre

Começámos com esperança. Cravos na mão, botas nas praças, vozes nas rádios. Mas não passou um ano até termos percebido que a “liberdade” vinha acompanhada de burocracia, sindicalismo de sofá e discursos com mais vírgulas que verbos. Instaurou-se a partidocracia, um regime onde os partidos mandam, os governos obedecem e o povo paga — sem recibo.

Cavaco, o Excel em Pessoa

Vieram os anos dourados do betão e da bazuca de Bruxelas. Cavaco Silva, com o carisma de uma impressora matricial, ergueu o império das autoestradas e das adjudicações duvidosas. Criou a famosa classe média dependente de subsídios, ensinou o país a comer iogurtes, e mostrou que um bom político não precisa de ideias — basta ter estatísticas.

Guterres e o pântano

Depois veio Guterres, o bom aluno, o homem das metáforas aquáticas. Governou com doçura e abnegação... até perceber que o país era ingovernável e fugir para a ONU como quem troca o refeitório por brunch executivo. O seu legado? Um pântano. Literal e figurado.

Durão, Santana e o episódio piloto

Seguiu-se uma época gloriosamente absurda: Durão Barroso subiu ao poder e fugiu para Bruxelas antes de aquecer a cadeira, deixando Santana Lopes a governar como quem tropeça em palco durante um ensaio geral. Durou pouco, mas o suficiente para deixar uma impressão permanente: “isto não pode ser a sério”.

Sócrates, o engenheiro da ilusão

Então chegou Sócrates, o visionário. Um engenheiro político com curso duvidoso e convicções firmes: mentir com confiança e endividar com orgulho. Vendeu o país como quem vende telemóveis em cadeia de retalho. No fim, faliu tudo — menos o charme.

Passos Coelho e o manual da troika

Com o país de tanga (ou cueca de renda rasgada), Passos Coelho aplicou austeridade com zelo protestante. Cortou, apertou, sacrificou... e depois disse que era pelo bem de todos. Os bancos caíam, os serviços públicos encolhiam, mas o défice sorria — o único português feliz naqueles anos.

Costa, o ilusionista institucional

E então, António Costa. O homem que sorri para tudo, que faz acordos com a esquerda enquanto privatiza à direita, que não faz ondas — apenas navega em espuma institucional. Governou oito anos a adiar reformas, nomear amigos e inaugurar promessas. Tudo com um ar de “isto está melhor do que parece”... até rebentar num escândalo atrás do outro e entregar o país de bandeja ao populismo.

Marcelo, o Presidente dos Abraços

E como esquecer o nosso rei do afecto? Marcelo, o omnipresente, o “influencer de Estado”. Sempre com casaco ao ombro, lágrima pronta e um microfone por perto. Visitou mais lares que enfermeiros, mais praias que nadadores-salvadores. Foi presidente do sentimento — e absolutamente irrelevante para qualquer mudança estrutural.

Conclusão: uma democracia de efeitos especiais

Portugal vive há 50 anos num filme que mistura comédia, drama e má gestão. Os verdadeiros problemas — pobreza estrutural, corrupção, justiça moribunda, sistema educativo obsoleto — ficam sempre para o próximo governo, que por sua vez os remete para o próximo ciclo eleitoral. E assim sucessivamente, até ao infinito e mais corte de orçamento.


Nota final:
Se isto fosse uma peça de teatro, já teríamos sido vaiados há décadas. Mas como é a realidade... continuamos a assistir, resignados, entre o riso amargo e o imposto em dia.


Artigo de Francisco Gonçalves e Augustus Veritas

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