O País que Cruzou os Braços à Espera do Euromilhões e da raspadinha

Publicado em 2025-05-22 13:37:34

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Portugal, esse velho palco de tragédias e comédias, tornou-se uma terra onde a e a esperança são os motores que empurram o povo para o dia seguinte. Não a fé como impulso interior para agir, mas como muleta para a inércia. E não a esperança como plano de superação, mas como lotaria emocional: a ideia absurda de que um dia, sem fazer nada, tudo pode mudar.

Há quem diga: “Acredito no destino.” E tudo bem. Mas por cá, acredita-se tanto no destino que já não se acredita em mais nada — nem em esforço, nem em estratégia, nem em coragem. O destino virou desculpa. Um álibi para o conformismo.

E depois há o Euromilhões. Essa missa semanal laica, com boletim no lugar do terço. A economia vai mal? Talvez a sorte me salve. A política está podre? Talvez ganhe e vá embora. O salário é miserável? Pode ser que esta semana...

Vivemos num país onde os braços estão cruzados não por cansaço, mas por hábito. Onde o verbo “fazer” foi substituído por “esperar”. Esperar que um líder surja, que o sistema mude, que a Europa resolva, que Deus ajude, que o número saia.

Mas o que muda um país não é o número que sai da máquina de sorteios — é o número de cidadãos que se recusam a viver como figurantes. Que percebem que a sorte é um bónus, não uma estratégia de vida. Que compreendem que a fé, sem ação, é só superstição com retórica.

E é por isso que esta frase ecoa com tanta verdade:

“Acredito no destino, mas acredito ainda mais nas escolhas que fazemos.”

Porque o futuro não se conquista de joelhos. Conquista-se de pé. Com olhos abertos. Com as mãos sujas de trabalho e a consciência limpa de ilusões. Enquanto Portugal continuar a cruzar os braços à espera do prémio... o verdadeiro jackpot continuará a ser distribuído entre os mesmos de sempre.

E nós, com sorte, continuaremos aplaudindo — até nos cairem os braços?

Francisco Gonçalves

Escrever no Vazio

Um desabafo sobre o silêncio que sufoca quem ousa pensar. Uma reflexão sobre o ato de escrever num país que prefere calar.

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