Publicado em 2025-05-02 13:18:18
Num tempo em que a guerra se faz por cabos de fibra e algoritmos silenciosos, Portugal continua a confiar num escudo de papel. As nossas infraestruturas tecnológicas, tanto públicas como privadas, estão repletas de brechas — algumas visíveis, outras escondidas sob camadas de ignorância institucional e arrogância técnica.
As equipas técnicas em muitas entidades públicas são compostas por jovens recém-saídos das universidades ou cursos técnicos acelerados. Têm energia, mas falta-lhes contexto. Sabem instalar pacotes, mas não compreendem as camadas invisíveis do risco. Sem mentores experientes a seu lado, são como aprendizes a pilotar aviões em zonas de guerra com apenas um manual de instruções.
O mercado valoriza o “dev rápido”, não o “engenheiro resiliente”. E assim se entregam sistemas críticos a quem ainda não teve tempo de falhar, aprender, afinar.
Hospitais, tribunais, escolas, autarquias, operadoras, bancos — todos vivem ligados por uma malha digital de confiança implícita. Basta uma falha. Um email inocente. Um acesso não revogado. Um servidor esquecido. E todo o edifício pode ruir.
O setor privado, por sua vez, subcontrata segurança a empresas que entregam firewalls como se fossem extintores: penduram na parede e esquecem. A cloud é usada como fuga para a frente. A cultura digital é superficial. O plano de contingência? “Esperar que não aconteça”.
É o desprezo pelo saber acumulado. É o desinvestimento contínuo em quem tem 20, 30, 40 anos de estrada. É o culto da startup sem fundações, do improviso sem revisão.
Portugal precisa de um Plano Nacional de Maturidade Digital — não apenas para as máquinas, mas para as mentes.
Não esperemos pelo próximo ataque para agir. Não façamos da fragilidade uma identidade. Portugal precisa de soberania digital, maturidade tecnológica e pensamento estratégico.
A liberdade de um país também se mede pela sua capacidade de proteger os seus sistemas, os seus dados e o seu povo.
Por : Francisco Gonçalves
in Fragmentos do Caos