Publicado em 2025-05-26 10:32:00
Vivemos numa era de diplomas e ecrãs — e, paradoxalmente, de regressão mental.
Nunca houve tantos cursos, tantos certificados, tanta informação acessível. Mas também nunca se pensou tão pouco, se refletiu tão mal e se leu tão superficialmente. A ilusão de conhecimento tornou-se o novo manto da ignorância.
Já não há tempo para a reflexão. O pensamento estratégico é tratado como luxo, a projeção no futuro como utopia e o planeamento como um peso burocrático. Tomam-se decisões em cima do joelho, governa-se por reacção e comunica-se em cápsulas — frases curtas, manchetes gritadas, emojis e “likes”.
A compreensão de textos tornou-se quase entediante. Ler dois parágrafos seguidos exige esforço. Pensar, então... é quase subversivo.
O mais chocante?
Estamos a formar cidadãos com graus académicos que raciocinam como adolescentes mal informados.
A inteligência emocional murcha. A literacia crítica dissolve-se. A cultura é substituída por entretenimento. O saber profundo? Já ninguém tem paciência.
O Estado já não governa — reage. As empresas já não planeiam — improvisam. A sociedade já não debate — replica memes.
A consequência? Decisões erráticas, falta de visão de longo prazo, superficialidade institucional, e um povo que, mesmo com cursos superiores, não sabe distinguir entre opinião e facto, argumento e gritaria.
E no meio disto tudo, os verdadeiros pensadores tornam-se figuras excêntricas. Gente que “complica”. Que “pensa demais”.
Estamos a viver uma era de analfabetismo de luxo — cheio de gadgets, títulos e aparência de conhecimento, mas sem a substância que constrói civilizações.
E enquanto não resgatarmos o tempo para pensar, a humildade para aprender e a coragem para questionar, continuaremos a afundar neste vazio reluzente.
“O século XXI não está a ser vencido pela ignorância primitiva, mas pela ilusão de sabedoria que se veste de LinkedIn e PowerPoint.”
Francisco Gonçalves