No xadrez geopolítico do século XXI, já não é necessário conquistar para dominar. Basta emprestar. E nenhum jogador entende isso melhor do que Xi Jinping, o presidente da China que, sem disparar um único tiro, está a redesenhar a ordem mundial com crédito, influência e contratos de longo prazo.

Esta semana, a China prometeu 8,3 mil milhões de euros em empréstimos a países da América Latina e Caraíbas, reforçando o seu papel como parceiro preferencial das economias em desenvolvimento. Mas o gesto é muito mais do que financeiro — é político, estratégico, e profundamente simbólico.


O que Xi está a fazer

  • Compra lealdade com dinheiro.
  • Substitui o dólar por yuan em zonas-chave.
  • Constrói infraestrutura crítica (portos, estradas, ferrovias, telecomunicações) com empresas estatais chinesas.
  • E oferece tudo isto sem exigir democracia, reformas, ou escrutínio internacional.

É o modelo chinês de diplomacia: dinheiro agora, influência depois.


"Rejeitar a interferência externa" — o novo código do autoritarismo global

Ao declarar que os países devem "rejeitar interferência externa" e "seguir um caminho de desenvolvimento alinhado com as suas condições nacionais", Xi fala a língua que muitos líderes populistas e autocráticos adoram ouvir.

É a nova ideologia do século XXI:

"Façam negócios connosco. Não vamos perguntar como tratam os vossos jornalistas, juízes ou opositores."


O Ocidente está a perder o sul global

Enquanto os EUA, sob Trump, fazem negócios familiares e impõem tarifas, e a Europa se perde em cimeiras e normas, a China:

  • financia África, América Latina, Sudeste Asiático;
  • ganha contratos estratégicos com condicionalidade zero;
  • e constrói uma rede de dependências económicas invisíveis, mas eficazes.

É o novo colonialismo — mas desta vez, com sorriso e yuan.


Portugal e a Europa: periféricos no novo mapa de poder

Portugal assiste a tudo como figurante silencioso:

  • sem voz no Indo-Pacífico,
  • sem visão sobre a América Latina,
  • sem estratégia para África, onde já foi potência.

E a Europa, fragmentada e hesitante, continua a agir como se a ordem liberal ocidental ainda fosse a única em jogo. Mas o tabuleiro já mudou — e o novo jogo fala mandarim.


✊ Acordar antes que seja tarde

Se o Ocidente não reagir com:

  • investimento estratégico,
  • soberania tecnológica,
  • e alternativas reais ao crédito chinês,

ficará reduzido a espectador de um mundo que já não molda — apenas observa.

Porque enquanto uns ainda discursam, Xi Jinping compra o palco inteiro.


Por Francisco Gonçalves

🌌 Fragmentos do Caos: Blogue Ebooks Carrossel
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