A crítica de Matthew Prince, CEO da Cloudflare

A crítica de Matthew Prince, CEO da Cloudflare, não é apenas um desabafo — é um diagnóstico brutal, mas tristemente realista.
Portugal tem imenso potencial: qualidade de vida, segurança, clima, talento qualificado.
Mas o sistema está feito para asfixiar quem quer construir, inovar ou investir a sério. E um empresário que se move no tempo da nuvem digital bate contra a parede de cimento armado da burocracia lusitana.
Eis o que penso, com franqueza:
1. A crítica é dura, mas não injusta.
O "país das oportunidades" só o é no PowerPoint dos ministérios.
Na prática, quem tenta investir esbarra em:
- Serviços públicos lentos, analógicos e imprevisíveis
- Autorizações e licenças que demoram meses ou anos
- Leis contraditórias e mal fiscalizadas
- Falta de accountability e de visão estratégica a nível central
2. Não é só o aeroporto — é todo o país que está atrasado.
Atrasado não tecnicamente, mas mentalmente.
Os processos não foram desenhados para facilitar, mas para filtrar, adiar, mandar calar.
Mas o mais trágico é isto:
"Portugal promete muito… e entrega muito, muito pouco."
Essa frase podia ser o epitáfio do regime atual.
Políticos vendem Portugal como se fosse Silicon Valley com vista para o Atlântico —
mas entregam balcões fechados, plataformas online que não funcionam, e um Estado que exige tudo e oferece pouco.
Em resumo:
- Sim, Prince tem razão.
- Sim, é trágico que seja um estrangeiro a ter coragem para dizer o que muitos empresários nacionais só sussurram.
- E sim, Portugal precisa de uma disrupção estrutural — ou arrisca-se a ser eternamente o país do "quase" e do "se".
Por Francisco Gonçalves in Fragmentos de Caos