Publicado em 2025-04-26 21:00:50
Ensinar a pensar criticamente continua a ser o maior handicap dos sistemas de ensino tradicionais — os de ontem e os de hoje, antes e depois de Abril de 74.
Nada mudou.
Tudo permanece como há 300 anos, quando a velocidade era medida pelo galope dos cavalos... e hoje apenas pelo trote resignado das novas bestas.
A ausência estrutural da disciplina de Cidadania — aquela que forma cidadãos livres e conscientes — continua a condenar o país à degradação democrática, à pobreza de espírito, à mediocridade instalada em todas as esferas do poder.
Sem pensamento crítico, sem responsabilidade cívica, sem exigência ética, não há nação que resista, nem futuro que se construa.
Abril foi uma promessa.
Uma promessa vã — como vã é a crença num mundo que se recusa a questionar a si mesmo, que prefere adormecer nas pequenas vantagens do dia-a-dia enquanto tudo o que importa é corroído sem alarme.
Vivemos, de facto, no país do Mestre Pangloss:
"Tudo está bem no melhor dos mundos possíveis" — repetem-nos, enquanto a realidade desmorona e a dignidade se esvai nas estatísticas de miséria, abandono e resignação.
Cinquenta anos depois de Abril, resta a memória de uma esperança imensa, daquela chama que incendiou sonhos e prometeu um novo começo.
Mas o tempo — esse paciente coveiro — tratou de enterrar grande parte desses sonhos sob camadas de indiferença, oportunismo e fatalismo.
Tudo parece na mesma.
E pior: tudo tem potencial para ser ainda pior.
Mais desigualdade. Mais corrupção. Mais anestesia social.
É preciso mais do que memória.
É preciso coragem.
É preciso voltar a pôr tudo em causa — sem concessões, sem reverências, sem medo.
Francisco Gonçalves
(Fragmentos do Caos)
Imagem cortesia de OpenAI (c)