Elefantes Digitais e Carroças sem Bois: A Megalomania que Consome Portugal

Publicado em 2025-04-04 20:34:59

Portugal, terra de sonhos grandiosos e execuções vazias, tem um talento especial para anunciar o futuro enquanto enterra o presente. O Data Center da Covilhã, erguido com pompa por José Sócrates nos anos 2000, é o exemplo perfeito desse delírio institucionalizado. Prometia-se um polo de inovação, uma âncora de desenvolvimento para o interior, o "Silicon Valley" da Beira. Anúncios não faltaram, mas projetos reais nunca vieram. Hoje, passados mais de dez anos, o edifício serve mais aos ratos do que à tecnologia. O sonho virou ruína, e o dinheiro dos contribuintes desapareceu sem rasto nem responsabilidade.

A história repetiu-se com novo verniz em 2018, desta vez com António Costa. Em Sines, um "megalómano" Data Center foi anunciado como o epicentro da Inteligência Artificial europeia. Fala-se em investidores, em clientes internacionais, em transformação digital. Mas na realidade, a infraestrutura existe sem projeto visível, e o Ministério Público investiga. Mais uma carroça antes dos bois. Mais um monumento de betão à espera de uma ideia que o justifique.

Esta é a lógica absurda de um país pobre que gasta como se fosse rico. Onde os políticos constroem catedrais tecnológicas sem sequer terem um livro de missas. Nos países tecnologicamente evoluídos, os projetos começam em garagens, crescem com provas de conceito, conquistam financiamento pela sua excelência. Aqui, o Estado despeja milhões antes de haver produto, antes de haver mercado, antes de haver necessidade.

E tudo isto sem qualquer responsabilização política, jurídica ou ética. Os mesmos que anunciam, depois desaparecem ou são promovidos. Os mesmos que enterram milhões, não têm que prestar contas. E o povo, esse, paga. Sempre.

A destruição silenciosa de recursos públicos por via da megalomania é uma forma de corrupção estrutural. E é também um insulto à inteligência e ao trabalho de quem, em Portugal, luta com meios escassos para fazer verdadeira inovação, em universidades, laboratórios e pequenas startups.

Portugal precisa urgentemente de inverter esta lógica: menos betão, mais visão. Menos propaganda, mais projeto. Menos promessa, mais execução com sentido. Porque um país que desperdiça o pouco que tem para parecer aquilo que não é, está condenado a nunca ser nada mais do que um estágio para ensaios de poder.

E já chega de ensaios. É tempo de exigir responsabilidade, planeamento e verdade. Não queremos mais elefantes digitais a apodrecer nas montanhas. Queremos ideias com futuro, mesmo que nasçam em garagens.

Por: Francisco Gonçalves