Publicado em 2025-03-22 14:57:00
No seu segundo mandato como Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump está a reafirmar-se como a figura mais polarizadora da história recente da política americana. Se, durante o primeiro mandato (2017-2021), o mundo se habituou a um estilo caótico, disruptivo e personalista, o segundo mandato (desde janeiro de 2025) está a revelar-se uma versão intensificada do mesmo enredo. A grande questão que paira é: o que ficará de pé no fim deste novo ciclo?
Logo nas primeiras semanas, Trump assinou quase 100 ordens executivas, desmontando estruturas fundamentais do governo federal. Entre as mais polémicas está a ordem de desmantelamento do Departamento da Educação — uma bandeira de longa data de sectores ultraconservadores, que veem na centralização federal da educação uma ameaça à liberdade individual.
Este gesto, aplaudido pela base trumpista, é visto por analistas como uma machadada num dos pilares do Estado moderno: a promoção equitativa da educação. Ao enfraquecer o ensino público, o governo favorece uma lógica privatista e desigual, com impactos duradouros.
Apesar de Trump continuar a afirmar que "tudo está a correr bem", os mercados financeiros e a confiança dos consumidores dizem o contrário. O dólar tem vindo a enfraquecer, o S&P 500 caiu quase 10% desde fevereiro, e os receios de recessão estão a crescer.
A política económica errática, marcada por tarifas agressivas contra aliados e adversários, cortes orçamentais e instabilidade regulatória, está a afastar investidores. A guerra comercial com a China reacendeu, e as tarifas sobre importações do México e Canadá — ora aplicadas, ora suspensas — criam um clima de incerteza.
No plano internacional, Trump aproxima-se perigosamente de Vladimir Putin, numa tentativa discutível de afastar Moscovo de Pequim. Contudo, muitos analistas apontam que Rússia e China continuam unidas por uma aliança estratégica anti-hegemónica contra os próprios Estados Unidos.
Trump insultou aliados europeus, ameaçou abandonar a NATO e exige aos parceiros aumentos exorbitantes nas despesas de defesa, sob pena de "não serem defendidos". Estas atitudes minam décadas de diplomacia e criam fissuras profundas na aliança transatlântica.
No plano doméstico, Trump intensificou a retórica agressiva contra juízes, jornalistas, adversários políticos e instituições democráticas. Já ameaçou afastar magistrados e deslegitimar decisões judiciais, comportamento que levou até o Supremo Tribunal a emitir um raro aviso público.
A polarização atingiu níveis extremos: 92% dos republicanos aprovam o seu desempenho, enquanto mais de 90% dos democratas o rejeitam. Os independentes, cruciais para a estabilidade política, estão cada vez mais céticos.
A questão fundamental é: o que ficará de pé após este segundo mandato?
O segundo mandato de Trump é, até agora, um campo de batalha entre o impulso destrutivo e a resiliência institucional. Se o presidente conseguir manter o apoio da sua base e evitar que a economia colapse por completo, poderá sair do cargo como um "vencedor" aos olhos dos seus. Mas o que deixará para os EUA e para o mundo será, muito provavelmente, um rasto de divisão, descrédito e desgaste — difícil de reconstruir.
Autor : Francisco Gonçalves
Créditos para IA, chatGPT e DeepSeek (c)