Publicado em 2025-03-27 00:09:43
Vivemos uma era marcada por paradoxos: nunca tivemos tanto acesso à informação e, simultaneamente, nunca estivemos tão vulneráveis à manipulação. As democracias europeias e ocidentais, que outrora floresciam sob os pilares da liberdade, dos direitos humanos e da separação de poderes, enfrentam hoje uma ameaça difusa, mas letal. Essa ameaça vem tanto de fora como de dentro. E o seu objectivo é claro: fragilizar as sociedades livres, desacreditar os seus sistemas e, se possível, fazer ruir o edifício da democracia.
A Rússia de Putin, verdadeira herdeira do cinismo soviético, transformou a desinformação num instrumento geopolítico. Com redes de fake news, bots, trolls e uma estratégia deliberada de semear dúvida e dividir sociedades, Moscovo tem promovido o caos nas democracias ocidentais: do Brexit à Catalunha, das eleições americanas às campanhas antivacinas.
A China, por seu lado, adopta uma abordagem mais subtil, mas igualmente corrosiva: infiltra-se economicamente, impõe a censura através de plataformas digitais e cultiva dependências financeiras que silenciam as críticas. Exporta a sua vigilância digital como se fosse progresso tecnológico.
O Irão e outras teocracias actuam de forma menos visível, mas eficaz: apoiam redes extremistas, propagam ideologias regressivas e exploram conflitos identitários para dividir o tecido social europeu.
Mas não é só de fora que vem o perigo. As democracias também estão a ser corroídas por dentro. Um crescente número de cidadãos deixou de acreditar nos sistemas políticos, nos media tradicionais, nas instituições públicas. Esta desconfiança é explorada por populistas que prometem soluções simples para problemas complexos, minando a razão e exaltando a emoção.
O exemplo da América de Trump é paradigmático. A maior democracia do mundo elegeu um homem que fez da mentira uma arma política e do desprezo pelas instituições um espectáculo diário. Trump não está sozinho: há Venturas, Bolsonaros, Le Pens, Orbáns… todos com um denominador comum — desacreditar a democracia, dominar o Estado e subjugar a verdade.
Estamos perante uma guerra assimétrica, onde as armas não são tanques ou mísseis, mas memes, vídeos manipulados, títulos sensacionalistas, e algoritmos viciados. A guerra é pela mente e pela percepção.
As redes sociais tornaram-se um campo de batalha onde os factos competem com ficções emocionais altamente virais. E os cidadãos, atolados num mar de ruído, deixam de distinguir o real do fabricado.
O que fazer perante este cenário?
Se nada fizermos, corremos o risco de ver a democracia transformar-se num ritual vazio, onde eleições ainda existem, mas o pluralismo, a liberdade e a verdade desapareceram. Como dizia George Orwell: "A liberdade é o direito de dizer às pessoas aquilo que elas não querem ouvir." E isso começa por denunciar, com coragem, as manipulações das trevas, vindas de Moscovo, Pequim ou do populismo interno.
A democracia precisa de ser defendida todos os dias. E defender a democracia é, hoje, ter a coragem de duvidar das narrativas fáceis, de recusar o ruído e de reafirmar o valor universal da liberdade.
Por : Francisco Gonçalves
Créditos para OpenAI e chatGPT (c)