A União Europeia e a Guerra na Ucrânia: Uma Estratégia Perdida no Caos
Publicado em 2025-03-02 11:28:20
A guerra na Ucrânia tornou-se um dos maiores desafios geopolíticos do século XXI, e a União Europeia (UE) assumiu, desde o início, um papel central no apoio a Kiev. No entanto, passados três anos de conflito, a UE encontra-se num beco sem saída, incapaz de atingir os seus objetivos militares e diplomáticos.
O cenário atual revela uma Europa dividida, sem influência real nas negociações de paz e com um crescente desgaste económico e político. O que correu mal? A UE nunca se preparou para um plano B – acreditou na vitória ucraniana e ignorou as realidades do poder global. Agora, com Donald Trump a assumir a liderança das negociações com Putin, a União Europeia está reduzida a um espectador irrelevante.
1. A Ilusão da Vitória Absoluta
Desde o início da guerra, a UE apostou numa abordagem maximalista: apoio militar total à Ucrânia, sanções esmagadoras contra a Rússia e a promessa de uma vitória decisiva sobre Moscovo.
- A narrativa oficial repetia que a Rússia estava isolada, economicamente arruinada e militarmente fragilizada.
- As contraofensivas ucranianas foram apresentadas como um sucesso garantido, mesmo quando falharam em recuperar territórios estratégicos.
- A ideia de negociar com a Rússia foi descartada como “impossível” – o único caminho aceitável era a retirada russa e a devolução de todos os territórios ocupados, incluindo a Crimeia.
Este otimismo cego ignorou duas realidades fundamentais:
- A Rússia não estava isolada → Pelo contrário, fortaleceu alianças com a China, Índia, Irão, Brasil e África, compensando as sanções ocidentais.
- A guerra não poderia ser vencida apenas com sanções e apoio militar → A Rússia adaptou-se rapidamente, aumentando a produção de armamento e redirecionando a sua economia para um modelo de guerra.
Oportunidades Perdidas
- Em 2022, um acordo de paz mediado pela Turquia esteve próximo de ser assinado. A UE rejeitou essa via, seguindo a linha imposta pelos EUA e pelo Reino Unido.
- Após a primeira contraofensiva ucraniana, quando se tornou evidente que uma vitória rápida era impossível, Bruxelas continuou a insistir numa escalada militar, em vez de reconsiderar a estratégia.
- A UE também ignorou a necessidade de pressionar Zelensky a negociar, preferindo promover visitas simbólicas a Kiev e discursos sobre “resistência total”.
2. A Viragem com a Chegada de Trump
A reeleição de Donald Trump desmontou toda a estratégia europeia. Em poucas semanas, ficou claro que os EUA, o maior financiador da guerra, não têm interesse em prolongar o conflito.
- Trump iniciou negociações diretas com Putin, excluindo a Ucrânia e a UE.
- A posição da Casa Branca agora é clara: é preciso encerrar a guerra, mesmo que isso signifique concessões territoriais.
- Zelensky perdeu o seu principal aliado e está cada vez mais pressionado a aceitar um acordo desfavorável.
Para a União Europeia, esta mudança foi um choque brutal. Depois de três anos a rejeitar qualquer negociação, a UE vê-se agora forçada a assistir passivamente enquanto Trump e Putin decidem o futuro da guerra.
3. A UE Perdeu-se na Sua Própria Ilusão de Poder
O maior erro da UE foi sobrestimar a sua força e subestimar a realidade geopolítica.
- A Europa não é uma superpotência militar. Sem os EUA, não tem capacidade para sustentar uma guerra prolongada contra a Rússia.
- As sanções não colapsaram a economia russa. Moscovo adaptou-se e fortaleceu laços comerciais com o resto do mundo.
- A unidade europeia está a desmoronar-se. Países como Hungria e Eslováquia já desafiam abertamente a posição oficial da UE, enquanto França e Alemanha começam a admitir que a guerra não pode continuar indefinidamente.
Enquanto isso, Bruxelas continua a promover uma retórica belicista sem um plano concreto, anunciando aumentos no orçamento militar dos Estados-membros sem definir uma estratégia clara.
4. O Que Restou à União Europeia?
Com Trump a negociar diretamente com Putin e a Ucrânia cada vez mais fragilizada, a UE enfrenta um dilema existencial:
- Aceitar o acordo imposto pelos EUA e pela Rússia, perdendo qualquer influência no processo de paz.
- Tentar prolongar a guerra sozinha, aumentando o investimento militar – um cenário pouco viável sem o apoio americano.
Nenhuma destas opções é favorável para a UE, que se encontra na pior posição possível: não venceu a guerra, não preparou a paz e agora não tem poder para influenciar o desfecho.
Conclusão: A Tragédia da Geopolítica da União Europeia
A guerra na Ucrânia revelou todas as fragilidades da União Europeia enquanto ator global. A falta de pragmatismo, a ilusão de poder e a rejeição de negociações em momentos estratégicos deixaram o bloco europeu sem opções.
Agora, diante de um Trump determinado a encerrar a guerra sem a participação europeia, a UE vê-se forçada a confrontar a sua própria impotência. A pergunta que fica é: será que aprenderá a lição, ou continuará a agir como uma superpotência imaginária, sem força real para influenciar o mundo?
Francisco Gonçalves
Créditos para IA e ChatGPT (c)