A Extinção Lenta da Democracia Americana: Quando o Silêncio É a Maior Ameaça

Publicado em 2025-03-30 20:05:41


Num tempo em que a democracia se vê desafiada por forças internas e externas, os Estados Unidos da América — outrora o farol das liberdades ocidentais — enfrentam um dos seus momentos mais críticos. A recente afirmação do Presidente Donald Trump, admitindo publicamente considerar um terceiro mandato presidencial, levanta sérias dúvidas quanto à robustez institucional do país. Mais do que uma provocação, trata-se de um sinal perigoso de erosão democrática em curso.

Desde que regressou à Casa Branca, em janeiro de 2025, Trump tem governado por ordens executivas numa verdadeira avalanche autoritária: desmantelou departamentos inteiros, como o da Educação, flexibilizou regulações ambientais, impôs sanções de forma errática e hostilizou aliados históricos — tudo sem oposição efetiva dos outros poderes do Estado.

A 22.ª Emenda da Constituição americana, ratificada em 1951, limita o presidente a dois mandatos. No entanto, ao insinuar que essa regra pode ser contornada, Trump testa a complacência das instituições. Onde estão o Congresso, os tribunais, os governadores, os jornalistas? Onde está a cidadania americana, tantas vezes invocada como a guardiã da democracia participativa?

Este silêncio é ensurdecedor. É o mesmo silêncio que, noutras latitudes, permitiu a líderes como Vladimir Putin perpetuarem-se no poder. Trump segue um guião semelhante: desacredita a imprensa, criminaliza a oposição, enfraquece as instituições democráticas, e agora ensaia a ideia de eternizar-se no poder.

A normalização do absurdo é uma arma política devastadora. Um dia, o presidente insulta um juiz federal. No outro, dissolve um departamento. Depois, ameaça a NATO ou acena com a saída da ONU. Hoje, lança a ideia de um terceiro mandato. Amanhã, talvez suspenda eleições “por razões de segurança nacional”. Tudo isto, passo a passo, dentro de uma aparência de legalidade.

O problema maior não está em Trump, mas na ausência de resistência eficaz. Quando os poderes e contra-poderes não se opõem, quando os meios de comunicação se resignam ou se rendem ao entretenimento, quando os cidadãos se dividem em bolhas ideológicas — a democracia desfaz-se.

Se a maior democracia do mundo pode cair silenciosamente, o que dirá das restantes?

Este é o momento para a América — e para o mundo — lembrar-se de que a democracia não é eterna, nem garantida. É uma conquista frágil, que exige vigilância constante, coragem cívica e instituições fortes. E quando tudo isso falha, resta-nos apenas a história para lamentar o que deixámos desaparecer à vista de todos.


Francisco Gonçalves

Créditos colaborativos para DeepSeek e chatGPT (c)