Portugal e a Ilusão da Mudança: A História Repete-se?

Portugal tem uma longa história de resistência à mudança, apenas evoluindo quando as circunstâncias externas o tornam inevitável. Desde a Revolução Liberal de 1820 até ao 25 de Abril de 1974, as grandes transformações do país não resultaram de uma visão interna de progresso, mas sim da pressão exercida por crises económicas, políticas ou sociais geradas no exterior. Hoje, vivemos mais uma vez num estado de estagnação, onde a pobreza generalizada e a falta de perspetiva de futuro persistem. Será que estamos condenados a esperar que o mundo nos obrigue novamente a mudar?
O Ciclo da Inércia e da Mudança Imposta
A história mostra que Portugal só se adapta quando a realidade se impõe de forma incontornável. Vejamos alguns exemplos:
- O fim do império colonial – Durante décadas, Portugal insistiu em manter um império ultramarino quando já era evidente que a descolonização era inevitável. Só depois da revolução do 25 de Abril e da pressão internacional é que o país foi forçado a libertar as suas colónias.
- A entrada na União Europeia – Nos anos 80, a adesão à CEE foi a solução encontrada para evitar o colapso económico, garantindo acesso a fundos estruturais que mascararam a falta de inovação e produtividade.
- A crise financeira de 2011 – Após anos de má gestão económica, Portugal foi obrigado a aceitar a intervenção da Troika, implementando reformas que, de outra forma, nunca teriam sido feitas.
Estes são apenas alguns exemplos de um padrão que se repete: Portugal resiste à mudança até que não há outra alternativa.
O Estado Atual: Dependência e Falta de Visão
Atualmente, Portugal vive uma nova fase de inércia:
- Economia dependente do turismo e dos fundos europeus – Em vez de apostar em tecnologia e inovação, o país continua refém de setores frágeis e de baixo valor acrescentado.
- Educação ultrapassada – O sistema de ensino não forma cidadãos críticos e inovadores, mas sim trabalhadores obedientes, preparados para empregos que estão a desaparecer.
- Corrupção e clientelismo – O poder político mantém-se nas mãos de uma elite que gere o país em função dos seus próprios interesses, sem uma estratégia real para o futuro.
Neste contexto, qualquer tentativa de mudança estrutural é sufocada antes mesmo de ganhar força. Os media, controlados por interesses económicos e políticos, ajudam a manter a população dividida, distraída e resignada.
O Papel da Tecnologia e das Gerações Futuras
Se o passado ensina que Portugal só muda sob pressão externa, talvez a grande força transformadora do futuro venha da tecnologia e das novas gerações.
- Automação e inteligência artificial – Com a substituição de empregos tradicionais por máquinas e algoritmos, Portugal será forçado a repensar a sua economia e investir em setores de alto valor tecnológico.
- Novas gerações mais preparadas e globalizadas – Os jovens que hoje estudam e trabalham no estrangeiro podem trazer uma mentalidade diferente, mais aberta à mudança e à inovação.
- Colapso do modelo atual – Se os fundos europeus se tornarem insuficientes e o turismo perder relevância, o país poderá finalmente ser obrigado a reinventar-se.
No entanto, este processo pode ser doloroso se não for planeado com antecedência. O risco é que, mais uma vez, Portugal espere até ao último momento para agir, em vez de antecipar a mudança.
Como Acelerar a Mudança?
Apesar da inércia histórica, ainda há formas de preparar o país para um futuro melhor. Algumas iniciativas podem fazer a diferença:
- Reformar a educação – Um ensino que estimule o pensamento crítico, a criatividade e o conhecimento tecnológico será essencial para criar uma população mais preparada para a mudança.
- Fomentar o investimento em tecnologia – Portugal precisa de abandonar a ilusão de que o turismo e os serviços de baixo valor sustentam o futuro e apostar seriamente na inovação.
- Combater a corrupção e o clientelismo – Só com um sistema político mais transparente será possível garantir que as decisões são tomadas com base no interesse coletivo e não em benefícios individuais.
O grande desafio será unir as pessoas em torno desta visão. Hoje, quem quer mudança está disperso e dividido por pequenas diferenças, enquanto o sistema corrupto mantém a sua força ao fragmentar qualquer tentativa de transformação real.
Conclusão: Portugal Esperará Mais Uma Vez?
A história diz-nos que Portugal só muda quando o mundo o obriga. O problema é que, quando a mudança acontece sob pressão externa, ela é quase sempre dolorosa e desorganizada. Estamos perante mais um momento decisivo: ou o país se prepara agora para a revolução tecnológica e económica que está a chegar, ou mais uma vez será empurrado para a mudança de forma forçada e traumática.
A questão é: estamos dispostos a agir antes que seja tarde, ou vamos continuar à espera que o mundo decida por nós?
Francisco Gonçalves
e-mail: francis.goncalves@gmail.com
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