Publicado em 2025-02-27 10:23:46
Nos últimos anos, os portugueses têm assistido a um verdadeiro escândalo financeiro: enquanto os bancos apresentam lucros astronómicos, os contribuintes continuam a pagar a fatura dos resgates bancários. O caso do Novo Banco, um dos mais emblemáticos, revela como o sistema financeiro português se tornou um fardo insustentável para a população, sem que haja verdadeira responsabilização dos seus gestores ou dos decisores políticos que permitiram este estado de coisas.
A crise financeira iniciada em 2008 expôs as fragilidades da banca portuguesa, levando ao colapso de várias instituições. Para evitar o colapso total do setor, o Estado interveio, injetando milhares de milhões de euros para manter os bancos à tona. O caso mais notório foi o do Novo Banco, criado após a queda do Banco Espírito Santo (BES), cuja recuperação foi financiada com mais de 8 mil milhões de euros, dos quais uma grande parte proveniente do erário público.
Ao longo dos anos, o Fundo de Resolução – entidade que gere os apoios à banca e que é financiada pelos bancos e pelo Estado – acumulou uma dívida gigantesca. Atualmente, deve ao Estado 2.130 milhões de euros referentes ao apoio prestado ao Novo Banco. Segundo o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, os bancos contribuirão anualmente com 250 milhões de euros para o Fundo de Resolução, que irá utilizar esse valor para pagar a dívida ao Estado. No entanto, a previsão é que esta amortização dure até 2046 – ou seja, os portugueses terão de esperar mais de 20 anos para serem ressarcidos.
Enquanto os contribuintes aguardam, os bancos acumulam lucros sem precedentes. Em 2024, o setor bancário português vive um dos seus anos mais lucrativos de sempre:
Estes números são ainda mais escandalosos quando se percebe que grande parte destes lucros se deve ao aumento das taxas de juro, que encareceram brutalmente os créditos à habitação e ao consumo. Ou seja, os mesmos cidadãos que foram forçados a pagar os resgates bancários estão agora a ser esmagados pelos juros que enriquecem as mesmas instituições que ajudaram a salvar.
A impunidade é um dos traços mais revoltantes deste processo. Desde a queda do BES até à derrocada do BPN e do Banif, nenhum dos principais responsáveis por estes desastres financeiros foi verdadeiramente responsabilizado. Pelo contrário, muitos deles continuam a ocupar cargos de relevo no setor financeiro ou na política.
O próprio Mário Centeno, que enquanto Ministro das Finanças garantiu sucessivas injeções de capital no Novo Banco, agora, como governador do Banco de Portugal, defende o modelo de pagamento a longo prazo que beneficia os bancos e prejudica os contribuintes. O Estado, que deveria zelar pelos interesses da população, tem sistematicamente protegido os banqueiros, garantindo-lhes que qualquer risco será sempre absorvido pelo dinheiro público.
A atual estrutura do sistema financeiro português torna praticamente impossível evitar que situações semelhantes voltem a acontecer. O modelo de resgate bancário utilizado nos últimos anos não apenas falhou em proteger os contribuintes, como também incentivou a irresponsabilidade da banca, que sabe que pode contar com o Estado para cobrir as suas falhas.
Além disso, o prolongamento da dívida do Fundo de Resolução até 2046 significa que as futuras gerações continuarão a pagar pelos erros do passado. Se nada for feito para reformar o setor financeiro e garantir maior transparência e responsabilização, Portugal continuará a ser um país onde o sistema bancário prospera à custa da população.
O escândalo dos resgates bancários é um dos maiores exemplos da promiscuidade entre o poder político e o setor financeiro em Portugal. O silêncio dos sucessivos governos e a apatia generalizada da sociedade perante este saque institucionalizado apenas reforçam a ideia de que os interesses da banca estão acima dos interesses dos cidadãos.
Até quando os portugueses aceitarão pagar pelos erros e luxos dos banqueiros? Até quando a impunidade e a falta de transparência serão a norma? Estas são perguntas que exigem uma resposta urgente – antes que seja tarde demais.
Créditos para IA, DeepSeek e ChatGPT (c)